CORRUPÇÃO - Cunha e o déficit de R$ 2 bilhões em fundos de pensão da Cedae

Eduardo Cunha tem influência sobre as indicações de diretores da Cedae e da Prece desde o governo de Rosinha Garotinho, há 15 anos (Foto: Flickr/PMDB Nacional)

De 2002 até este ano, o déficit na Prece, como é chamada a Previdência complementar dos funcionários da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), saltou de R$ 75 milhões para cerca de R$ 2 bilhões.

A informação é proveniente da negociação dos acordos de delação premiada do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lúcio Funaro. Se forem homologadas, as delações trarão à tona um esquema na Previdência da Prece em curso nos últimos 15 anos.

As operações suspeitas e a má gestão do fundo são investigadas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) há pelo menos uma década.
Os fundos são administrados por ex-funcionários da Caixa Econômica Federal e da Cedae. Cunha tem influência sobre as indicações de diretores da Cedae e da Prece desde o governo de Rosinha Garotinho, há 15 anos. Logo, suspeita-se que ele indicava os ex-funcionários que trabalhariam no fundo sob sua orientação.

Valdemir de Carvalho, um dos integrantes eleitos do Conselho Deliberativo da Prece, responsabiliza a Cedae pelo déficit no fundo, já que, segundo ele, os participantes sempre se opuseram à maneira como as aplicações eram feitas. “Os indicados da Cedae que autorizaram as operações foram sempre questionados pelos representantes dos trabalhadores, que votavam contra suas decisões e faziam notificações judiciais e denúncias no MPF. Portanto, para nós, a Cedae é responsável pelo rombo de quase R$ 2 bilhões”.

Neste tipo de investimento, o trabalhador contribui com uma parte de seu salário para ter uma renda maior na hora de se aposentar. Com um patrimônio bilionário é possível aplicar o dinheiro em busca de retorno financeiro. Quando há segundas intenções nesta aplicação, a aposentadoria extra dos trabalhadores fica em risco.

Eduardo Cunha tem influência sobre as indicações de diretores da Cedae e da Prece. Alguns dos funcionários indicados chegaram a fazer cursos de especialização para operar melhor no mercado. No entanto, em favor do ex-deputado e em prejuízo da companhia. Para piorar, estes cursos ainda eram bancados pela própria empresa. Por isso, o esquema ficou conhecido como “escola do crime”.

Em 2004 e 2005, por exemplo, Cunha obteve lucro de R$ 917 mil, enquanto a Prece teve prejuízo. Segundo um documento da CVM e do Ministério Público Federal enviado ao Supremo Tribunal Federal, o ex-deputado precisaria ter tido mais sorte do que um ganhador da mega-sena para conseguir este resultado. Durantes as investigações, ficou claro que os “investidores” sabiam previamente o resultado que as operações iriam gerar, deixando para os fundos de pensão apenas os negócios com preços desfavoráveis. Enquanto isso, certos clientes das corretoras, como Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, compravam e vendiam o mesmo contrato, resultando em lucros.

Em 2000, o fundo chegou a dar lucro de R$ 26 milhões. Em 2002, o prejuízo era de R$ 75 milhões. No ano seguinte, o rombo saltou para R$ 147 milhões. Quando a Prece foi alvo da CPI dos Correios, em 2005, o prejuízo já era de R$ 300 milhões.

A defesa de Cunha disse que ainda não tomou conhecimento das investigações, por isso prefere não comentar as acusações. O advogado de Funaro, Bruno Espiñeira Lemos, disse que seu cliente ainda não tratou com ele sobre sua atuação no mercado financeiro a respeito de fundos de pensão. A Prece não se pronunciou nem sobre o envolvimento de Cunha nem sobre o rombo. Já a Cedae afirmou ao Globo que o ex-deputado nunca ocupou cargo na empresa. “Não há relação entre o ex-deputado e a administração da Cedae, que está à disposição da Justiça para esclarecimentos”.O Globo

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