CIÊNCIA - No jornal Science

Cientistas querem usar órgãos suínos em transplantes em humanos

A ideia de usar órgãos suínos é antiga, devido à semelhança no tamanho (Foto: Pixabay)

Várias pessoas morrem na fila de espera de transplantes de órgãos. Mas e se a ciência pudesse ajudar a resolver essa questão? Uma pesquisa divulgada na última quinta-feira, 10, no jornal Science explica justamente isso. Pesquisadores estão testando formas de modificar órgãos suínos para que eles possam ser transplantados em humanos.

Segundo David Klassen, diretor-médico da Rede Unificada de Doação de Órgãos, que administra as doações nos Estados Unidos, existe um gargalo entre a demanda e a oferta de órgãos para transplantes.

A ideia de usar órgãos suínos é antiga, devido à semelhança no tamanho. No entanto, alguns obstáculos impediram que o processo desse certo, mas com o atual avanço da ciência, os pesquisadores parecem estar conseguindo superar cada um deles. Tanto é verdade que George Church, geneticista de Harvard que lidera os experimentos, diz que os primeiros transplantes entre porcos e humanos podem acontecer dentro de dois anos. A nova pesquisa combina dois grandes avanços dos últimos anos: a edição de genes e a clonagem.

O problema da rejeição

Um dos obstáculos do transplante é a rejeição do órgão. No início da década de 1980, cientistas colocaram um coração de porco em um babuíno. O animal morreu minutos depois do transplante. Os cientistas logo descobriram que os órgãos dos porcos são envoltos por moléculas de carboidrato que fazem com que eles sejam imediatamente destruídos por anticorpos humanos, por exemplo.

David Cooper, da Universidade de Alabama, junto com sua equipe, conseguiu fazer uma edição genética e clonar os porcos, fazendo com que eles não tivessem essa cobertura nos órgãos. A partir daí, os transplantes de corações e rins em macacos e babuínos deram certo.

O problema dos retrovírus

Um segundo obstáculo seria os retrovírus. Em 1998, Jay Fishman, co-diretor do programa de transplantes do Massachusetts General Hospital, e seus colegas descobriram que no DNA dos porcos estavam escondidos genes de vírus (retrovírus) que se assemelhavam aos que causavam leucemia nos macacos. Quando os pesquisadores cuidavam das células dos porcos perto das células embrionárias do rim humano no laboratório, por exemplo, estes vírus se espalharam para as células humanas. Uma vez infectada, as células humanas infectavam as outras.

“Nós não sabemos se o transplante de órgãos de porcos com os retrovírus podem transmitir infecções e nós não sabemos se estas infecções são perigosas. Eu acho que o risco para a sociedade é muito pequeno”, disse Fishman.

Church e seus colegas acham que a questão do retrovírus pode ser resolvida com a Crispr, a nova tecnologia de edição de genes. Eles pegam as células dos porcos e cortam o DNA viral dos genomas. Então, clonam as células editadas.

Os clones falham frequentemente, a maioria dos embriões e fetos morreu antes de nascer ou logo que nasceram. Mas Church e sua equipe conseguiram que 15 leitões sobrevivessem. Nenhum deles tem o retrovírus.

Church fundou a eGenesis e espera vender os órgãos dos porcos geneticamente modificados. A companhia quer fazer com que os órgãos sejam tão compatíveis com os pacientes que não será necessário tomar os remédios anti-rejeição. O pesquisador quer combinar os dois avanços, fazendo com que os animais não tenham carboidratos nos órgão nem retrovírus.

A controvérsia do processo

O transplante de órgãos suínos em humanos ainda pode levar anos por conta da segurança necessária para o processo. No entanto, a ideia já levanta controvérsias. Entre elas, está o bem-estar animal. Estima-se que atualmente 100 milhões de porcos são mortos nos EUA a cada ano só para virar comida, um cenário que já foi criticado no filme “Okja” da Netflix e que lembra bem essa ideia de alterar geneticamente o porco em prol do benefício humano. No caso do filme, em benefício gastronômico.

No entanto, os cientistas argumentam que os porcos criados por conta de seus órgãos representariam apenas uma pequena fração do total e que poderiam salvar vidas humanas. Eles dizem que os animais seriam anestesiados e morreriam de forma humanizada.

A outra controvérsia é que alguns pacientes podem considerar que ter um órgão de porco é uma ideia desagradável. “Cerca de 22 pessoas por dia morrem esperando por um transplante. Se você pudesse ajudá-los com o órgão de um porco, isso não seria incrível?”, diz Cooper. Fica a questão.The New York Times

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