ELEIÇÕES NA ALEMANHA

Eleições alemãs ignoram os maiores desafios do país

Eleições gerais estão marcadas para o dia 24 de setembro (Foto: Flickr)

O mundo vive momentos de turbulência política. Os dramas do governo americano se repetem todas as semanas e não mais uma vez por ano. Na França, as forças do globalismo e do nacionalismo estão em conflito. No Reino Unido, as eleições que decidem o futuro da nação agora são eventos anuais.

Mas a Alemanha é diferente. É um país onde o Partido União Democrata-Cristã (CDU) da chanceler Angela Merkel caminha para a vitória nas eleições federais de 24 de setembro, com um programa de governo que oferece continuidade e estabilidade em um mundo cheio de surpresas. Martin Schulz, seu rival do Partido Social-Democrata (SPD), tem uma escolha difícil: adotar uma atitude de confronto e correr o risco de perder os votos dos eleitores de Merkel, ou fazer eco às suas propostas tranquilizadoras. Nesse caso, por que os eleitores da chanceler votariam nele?

Com exceção dos radicais de extrema-direita do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), os políticos e jornalistas alemães têm uma postura mais fria em relação à política e evitam conflitos. Com algumas pequenas diferenças, Merkel e Schulz compartilham a mesma visão de mundo: internacionalista, aberta ao diálogo e ao livre-comércio. É um país próspero, com a menor taxa de desemprego desde a reunificação alemã. Por que mudar?

No entanto, essa visão estática é um erro. Em longo prazo, a Alemanha enfrenta enormes desafios, que obrigarão seus líderes a fazer escolhas difíceis. “Os próximos três ou quatro anos serão os mais penosos desde a reunificação”, disse Timo Lochocki do German Marshall Fund of the United States.

A Alemanha tem uma posição estável dentro da estrutura da União Europeia, mas a iniciativa do presidente da França, Emmanuel Macron, de aprofundar a integração da zona do euro pode ameaçar a hegemonia geopolítica dos alemães. Os Estados Unidos querem que a Alemanha aumente o orçamento de defesa do país de 1,2% para 2% do PIB. Em maio, apenas 40% dos cidadãos alemães disseram ao Pew Research Center que usariam a força militar para defender um aliado da Otan em um conflito grave com a Rússia.

No plano econômico, a poderosa indústria automobilística alemã enfrenta o poder dos cartéis e, mais recente, a concorrência da fabricação de carros elétricos e veículos autônomos. A baixa taxa de investimento do país e os altos custos de energia prejudicaram sua competitividade na área digital e de infraestrutura. Os alemães são ainda mais hostis do que os franceses a firmar um tratado de livre-comércio com EUA e com grandes empresas do setor de tecnologia, como o Google. Em resumo, disse o analista político Stephan Richter, a classe política “apática” da Alemanha não usou a década de ouro do país a fim de prepará-lo para o futuro: “O desempenho passado não é sinal de sucesso nos próximos anos.”

O trabalho de integração dos 1,2 milhão de refugiados acolhidos pela Alemanha em 2015 e 2016 ainda está em um estágio inicial. Entretanto, apesar de ser uma questão extremamente complexa, a esquerda evita o assunto, enquanto os políticos da direita querem que os recém-chegados assimilem a cultura alemã e se integrem à sociedade, sem que haja uma adaptação de ambos os lados. Além disso, à medida que a sociedade alemã cresceu mais fluida e internacional, ficou mais difícil controlá-la. Os atentados terroristas recentes em Berlim e em Hamburgo, ambos cometidos por imigrantes que deveriam ter sido deportados, mostraram as sérias falhas no sistema de segurança do país.

Apesar dos riscos de conflitos, a Alemanha deveria discutir abertamente os problemas decorrentes da crise dos refugiados em 2015 e as razões que causaram a ascensão do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha em um contexto de sucesso econômico e estabilidade política. É o momento de construir um futuro mais seguro em meio às turbulências políticas do mundo.

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