CÉSIO-137

Acidente radiológico em Goiânia completa 30 anos

Um dos locais afetados pelo acidente do césio-137 segue inabitado até hoje (Foto: Wikimedia)

Nesta quarta-feira, 13, Goiânia relembra uma das maiores tragédias radiológicas do mundo. Trinta anos depois, a capital de Goiás ainda carrega marcas do acidente radiológico com césio-137, classificado como o episódio de contaminação mais grave ocorrido no país e o segundo maior do mundo – perdendo para o acidente nuclear de Chernobyl.

A tragédia teve início em 1987, quando os catadores de um ferro-velho Roberto dos Santos e Wagner Mota encontraram uma cápsula com a substância radioativa, que estava abandonada nos escombros do Instituto Goiano de Radioterapia – desativado desde 1985. A cápsula tratava-se de um equipamento de radioterapia utilizado para tratamento de câncer.

Sem saber do perigo do material, os dois catadores levaram a cápsula para o ferro-velho de Devair Ferreira, onde foi desmontada para suas peças de metal serem vendidas. No entanto, acabaram descobrindo um pó de brilho intenso que despertou a curiosidade de Devair. O pó tratava-se do césio-137.

Após a descoberta, o pó brilhante foi repassado a outros dois depósitos e distribuído a parentes e amigos do dono do ferro-velho e rapidamente o césio-137 se espalhou pela cidade. As pessoas que entravam em contato com a substância apresentavam sintomas como náusea, vômito e tontura, mas ninguém suspeitou da contaminação radiológica.

O acidente só foi identificado duas semanas depois, no dia 29 de setembro de 1987, quando um físico detectou a presença do material radioativo em diversas partes da cidade. Ao descobrir a contaminação, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) mandou examinar a população. Diversos locais da cidade foram isolados.

Na ocasião, pouco mais de 112 mil pessoas foram monitoradas no Estádio Olímpico de Goiás. Destas, 129 apresentaram contaminação e foram levadas para tratamento. Quatro pessoas morreram por conta da radiação, entre elas a sobrinha de Devair, Leide das Neves, de 6 anos, que chegou a ingerir parte da substância enquanto brincava com ela.

Leide se tornou um símbolo da tragédia e em 1988 foi criado um serviço de saúde especialmente para o atendimento às vítimas do acidente, a Fundação Leide das Neves – que anos mais tarde tornou-se Superintendência Leide das Neves.

Após o acidente, cerca de 6 mil toneladas de lixo radioativo foram recolhidas da capital goiana e todo esse material foi levado para o município de Abadia de Goiás, onde foi enterrado.

Discriminação

Atualmente, o acidente ainda faz parte da vida de 1.141 pessoas que tiveram algum tipo de contato com o césio-137 e são monitoradas pelo Centro de Assistência aos Radioacidentados (Cara), da Secretaria de Saúde de Goiás. Segundo o Cara, foram registradas 95 mortes desde 1987 de pessoas que faziam parte do grupo de monitorados.

Apesar disso, o diretor-geral do Cara, André Luiz de Souza, aponta que hoje “não existe risco de contaminação” na capital goiana, já que os níveis de radiação estão dentro dos padrões.

Ainda assim, moradores de áreas afetadas pelo acidente relatam sofrer discriminação. De acordo com uma pesquisa da psicóloga do Cara, Suzana Helou, 85% dos 48 pacientes vivos entrevistados ainda se consideram vítimas do acidente radiológico. “As pessoas ainda têm medo da gente”, relatou um dos entrevistados.Estadão

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