SAÚDE CHINA

China incentiva prática da medicina tradicional

(Foto: Pixabay)

“Antes vista com desconfiança por não ter uma base científica sólida, a medicina tradicional chinesa está prestes a conquistar o mundo.” Com um excesso de patriotismo, assim a agência estatal de notícias da China, Xinhua, divulgou a popularidade cada vez maior da medicina chinesa no mundo. Mas, apesar do entusiasmo da Xinhua, o Partido Comunista chinês não pretende substituir a ciência médica moderna por práticas antigas e não comprovadas de tratamentos médicos. Porém, o partido quer incentivar a prática da medicina tradicional chinesa (MTC) no mundo e tem planos de aumentar a extensa rede chinesa de hospitais e clínicas especializados em MTC.

Nos últimos anos, o número de hospitais que oferece tratamentos baseados nos princípios da medicina chinesa aumentou de cerca de 2.500 em 2003 para aproximadamente 4 mil no final de 2015. A partir de 2011, o número de profissionais licenciados aumentou em quase 50%, em um total de mais de 450 mil. Por meio de sua rede de “Institutos Confúcio”, o governo tem financiado o ensino da MTC nos Estados Unidos, Reino Unido e em outros países.

A medicina tradicional chinesa nem sempre foi tão prestigiada na China como agora. Após o colapso da última dinastia imperial do país em 1911, os novos líderes chineses denegriram sua imagem. Afinal, os tratamentos da MTC, com base na acupuntura e em medicamentos preparados com misturas de ervas e partes do corpo de animais, muitas vezes envolvem um elemento místico, uma crença em uma força chamada qi que afeta a saúde física. Mas Mao era um entusiasta da MTC por ser popular entre os camponeses que haviam apoiado seu movimento de guerrilha.

O presidente Xi Jinping é um defensor ainda mais veemente da MTC. No ano passado, o governo divulgou um relatório com planos para promovê-la e elogiou seu “impacto positivo no progresso da civilização humana”. O documento também dizia que a prática da medicina tradicional chinesa era uma “nova fonte de crescimento” para a economia do país. Em julho, o governo aprovou uma lei que exige que os governos locais abram unidades de MTC em todos os hospitais, com o mesmo nível de importância da medicina ocidental.

A medicina tradicional chinesa incentiva um estilo de vida e uma alimentação saudáveis. Os profissionais da área de saúde especializados em MTC, com conhecimento teórico e prático da medicina convencional, podem preencher lacunas no sistema de saúde precário da China. Mas a maioria dos tratamentos é, na melhor das hipóteses, um placebo e, em alguns casos, um perigo para a saúde dos pacientes.

O incentivo à disseminação da medicina tradicional chinesa nos hospitais e clínicas irá agravar o dano ao meio ambiente e às espécies ameaçadas de extinção. No planalto tibetano, os caçadores destroem os pastos à procura de lagartas mortas, que produzem um fungo que estimula supostamente a libido. Na savana sul-africana, os caçadores ilegais matam os rinocerontes para vender seus chifres no mercado negro da China por milhões de dólares. Segundo a tradição da medicina chinesa, o pó dos chifres é um excelente medicamento para a cura da artrite.

O presidente Jinping tem uma motivação política no incentivo à prática da MTC. Ele quer ser visto como um grande patriota e um defensor da cultura chinesa. Porém, a China se beneficiaria mais com seu estímulo ao desenvolvimento da ciência e não em uma crença sem fundamentos científicos.The Economist

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