ANTÁRTIDA HISTÓRIA

Expedição de oficial britânico ao Polo Sul poderia ter sido alvo de sabotagem

Foto dos tripulantes da expedição liderada pelo capitão Robert Scott em uma exposição no Museu de História Natural de Londres. EFE/C.H. Ponting

A possível sabotagem de um oficial ganha força entre as hipóteses que explicariam a morte do capitão Robert Scott e outros quatro tripulantes durante a primeira expedição britânica ao Polo Sul, há mais de um século.

O pesquisador Chris Turney, professor da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW), na Austrália, contou à Agência Efe que novas evidências apontam para o fato de que o segundo no comando da expedição, o tenente Edward 'Teddy' Evans, teria sido responsável por essas mortes por "sabotagem deliberada", apesar de não ser descartada a possibilidade de que se trate de "inaptidão".

"A chave da história é que a segunda pessoa mais importante no comando parece ter consumido o que era destinado a Scott e sua equipe, que morreram de fome na viagem de volta da Expedição Terra Nova", declarou o especialista.

Até agora, os historiadores atribuíam o falecimento de Scott - ultrapassado pelo norueguês Roald Amundsen em cinco semanas na corrida para chegar primeiro ao Polo Sul - a uma combinação de planejamento ruim e falta de sorte.

Durante a expedição, e antes de chegar ao objetivo, Scott ordenou a Evans e outras duas pessoas para retornarem como uma equipe de apoio, enquanto ele e quatro integrantes seguiriam com a viagem. Estes cinco então viajaram pelo lado oeste da plataforma de gelo Ross, que tem um clima pior do que a rota leste escolhida pelo norueguês e acabaram sendo atingidos por frio extremo e ventos.

O capitão e os quatro companheiros chegaram ao destino em 17 de janeiro e viram a bandeira da Noruega e parte do acampamento de Amundsen, que chegou em 14 de dezembro de 1911.

O primeiro a morrer no retorno foi o suboficial Edgar Evans e depois o capitão Lawrence Oates, que se sacrificou encarando o mau tempo para morrer congelado e não ser um problema para os colegas. O capitão, o médico Edward Wilson e Henry "Birdie" Bowers continuaram a viagem, mas, em 20 de março, ficaram presos em uma tempestade que provocou dias mais tarde a morte dos três. Os corpos e alguns pertences foram recuperadas oito meses depois.

Em 2011, quase um século após a morte do explorador, o professor da UNSW encontrou na Biblioteca Nacional do Reino Unido sete folhas que descrevem duas reuniões feitas em abril de 1913 entre o então presidente da Real Sociedade Geográfica, Earl Curzon, e Kathleen Scott e Oriana Wilson, viúvas do capitão e do médico.

A viúva de Scott disse à época que o diário do marido indicava que o tenente Evans e dois de seus homens "na viagem de retorno tinham bebido e comido mais do que correspondia a eles". A acusação foi reafirmada pela viúva do médico que, de próprio punho, deu conta de uma "inexplicável ausência de combustível e alimentos" na viagem de volta.

A análise dos diários sugere que as provisões sumiram do depósito, e as suspeitas recaem sobre Evans, que - conforme a versão oficial - deixou o grupo em 4 de janeiro de 1912, a menos de 250 km do Polo Sul, e dias depois adoeceu de escorbuto, doença rara causada por uma grave deficiência de vitamina C.

Mas Turney questiona a integridade de Evans por causa das contradições do oficial sobre o lugar onde adoeceu. Primeiro ele disse que sofreu o escorbuto a 483 km da base. Depois apontou que foi a 805 km dela. É exatamente no ponto dessa segunda distância, localizado no extremo sul da plataforma Ross, onde se suspeita que os estoques sumiram.

"Parece que (Evans) mudou a linha do tempo sobre quando ficou doente para justificar o fato de ter se apropriado dos alimentos", argumentou o professor australiano.

Evans, que mais tarde teve uma bem-sucedida carreira naval e recebeu várias condecorações, inclusive o título de barão, retornou ao local em 1913 para tentar encontrar possíveis sobreviventes da expedição.

Turney também lembrou que Apsley Cherry-Garrard, que participou parcialmente da expedição e em 1922 escreveu o livro "The Worst Journey in the World" ("A pior viagem no mundo" em tradução livre), viveu atormentado o resto da vida porque "sabia que algo ruim tinha acontecido" durante a viagem, "mas nunca conseguiu provar".

"Espero que a minha pesquisa ajude a mostrar o trabalho de Scott e de seus valentes companheiros", afirmou o professor.Rocío Otoya/EFE

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