EDUCAÇÃO AMÉRICA LATINA

O ‘novo analfabetismo’ entre jovens latino-americanos

Para a Unesco, os dados são reflexo de um sistema educativo deficitário na América Latina (Foto: Pedro Ribas/ANPr)

Um informe divulgado recentemente pelo Instituto de Estatísticas da Unesco (UIS, na sigla em inglês) revelou que uma parcela considerável dos alunos na América Latina e no Caribe conclui o ensino fundamental sem que sejam aprendidas as habilidades mínimas. Com isso, esses jovens carecem de competências básicas para a compreensão de uma leitura e para fazer contas.

Segundo o estudo, cerca 36% dos jovens latino-americanos no ensino fundamental não conseguem atingir níveis mínimos de leitura e 52% não têm compreensão matemática básica. Com isso, totalizam 19 milhões de adolescentes com sérias dificuldades nessas duas áreas do conhecimento.

Em relação ao Brasil os indicadores são ainda mais graves. Segundo dados compilados pela plataforma QEdu, baseados na Prova Brasil 2015, somente 30% dos alunos da rede pública completam o ensino fundamental com aprendizado adequado em leitura e interpretação e apenas 14% conseguem resolver problemas matemáticos básicos.

Os números chamam a atenção da diretora do UIS, Silvia Montoya, que considera “dramática” a situação dos alunos latino-americanos e alerta para um “novo analfabetismo”, em que alunos não conseguem extrair informações de parágrafos simples.

“No mundo de hoje, ter um nível mínimo de alfabetização já não é (apenas) saber ler o próprio nome e escrever algum fato da vida cotidiana. Carecer de compreensão leitora é uma espécie de incapacidade de se inserir na sociedade, poder votar e entender as propostas dos candidatos, entender seus próprios direitos e deveres como cidadão. Afeta todas as dimensões”, explica Montoya, em entrevista à BBC, destacando também que a inabilidade na leitura prejudica o aprendizado em outras áreas do conhecimento.

Para a Unesco, os dados são reflexo de um sistema educativo deficitário na América Latina, que antes enfrentava o problema da inclusão e hoje tem o desafio de melhorar a qualidade do ensino. “O desperdício de potencial humano evidenciado pelos dados confirma que levar as crianças à sala de aula é apenas metade da batalha”, diz o texto do relatório.

Montoya indica que as escolas latino-americanas que não conseguem fazer com que as crianças na sala de aula aprendam habilidades básicas, e que isso é resultado de uma série de fatores, como má formação de docentes, infraestrutura precária, perda de dias letivos e até mesmo a situação socioeconômica dos estudantes. “Há uma combinação de fatores que podem variar em cada lugar, mas evidentemente há uma ausência de políticas específicas para enfrentar o problema”, afirma Montoya.

O relatório da Unesco traz ainda números globais da educação. Segundo o orgão, cerca de 617 milhões de jovens no mundo (o triplo da população total do Brasil) não têm habilidades mínimas de leitura e matemática. Além disso, 88% dos estudantes na África Subsaariana completam o ensino fundamental com carência na compreensão em leitura. Já na América do Norte e na Europa, esse número cai para 14%.BBC

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