RÚSSIA MUDANÇA DE ABORDAGEM

Rússia se diz pronta para negociar com a Ucrânia

Porém, o objetivo de Putin de impedir a aproximação da Ucrânia com o Ocidente não mudou (Foto: kremlin.ru)

A proposta foi inesperada. Depois de anos ignorando os pedidos dos ucranianos de ajuda das forças de manutenção da paz das Nações Unidas, Vladimir Putin sugeriu durante a Assembleia Geral da ONU no mês passado, que o Conselho de Segurança enviasse as forças de paz para a linha de frente que separa os territórios controlados pelos rebeldes separatistas e a área sob controle do governo da Ucrânia. Para as autoridades em Kiev e no Ocidente a proposta de Putin é uma manobra cínica. A intervenção das forças de paz dentro do território ucraniano e não ao longo da fronteira com a Rússia formaliza a divisão interna do país.

Até há pouco tempo, a situação na Ucrânia era conveniente para Moscou. No final de 2016, o Kremlin viu um cenário geopolítico perfeito para suas ambições. Donald Trump seria eleito presidente dos Estados Unidos e suspenderia as sanções à Rússia; as pesquisas de intenção de votos eram favoráveis a Marine Le Pen nas eleições presidenciais francesas; e Angela Merkel estava envolvida na campanha de reeleição para seu quarto mandato como chanceler da Alemanha. A Ucrânia, por sua vez, preocupava-se com a indiferença do Ocidente. E as autoridades russas acreditavam que, após o colapso do governo ucraniano, a Ucrânia cederia ao domínio da Rússia.

Agora, a situação na Ucrânia mudou, disse Fyodor Lukyanov, membro do Conselho de Política Exterior e de Defesa do governo russo. A expectativa de fracasso do governo da Ucrânia, ou que os políticos aliados de Moscou assumissem o poder nas eleições presidenciais em 2019 desapareceu. A configuração do cenário político internacional também é diferente das previsões de Putin. O partido de centro-direita de Merkel venceu as eleições na Alemanha; o partido de centro-direita de Emmanuel Macron e não a legenda de extrema direita de Le Pen foi o grande vencedor nas eleições na França; e as autoridades russas esforçam-se para entender a personalidade volátil do presidente Trump e suas mensagens no Twitter.

Além disso, a pressão ocidental sobre a Rússia aumentou. Kurt Volker, ex-embaixador dos EUA na Otan e atual representante especial do governo americano para a Ucrânia, sugeriu o envio de armas às forças do governo que combatem os rebeldes pró-Rússia. E o Congresso dos Estados Unidos reforçou as sanções impostas à Rússia.

Para Putin, as sanções dificultam sua ambição de ser respeitado como um igual entre os líderes mundiais. Algumas autoridades ocidentais notaram uma mudança recente de atitude em Moscou. Ao se queixarem das sanções, algumas das figuras mais importantes do Kremlin soaram quase “patéticas”, de acordo com um ex-funcionário americano. Em uma postura mais conciliadora, a Rússia começou a enviar representantes para participar de reuniões internacionais, até então vistas como hostis. “Putin está pronto para negociar”, disse Dmitri Trenin, diretor do Moscow Carnegie Centre.

Porém, o principal objetivo de Putin, o de impedir a aproximação da Ucrânia com o Ocidente, não mudou. O Kremlin não confia no presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, para garantir a segurança de seus aliados separatistas, e Putin não pode traí-los. É uma situação de impasse delicada. As autoridades ocidentais, embora profundamente céticas quanto às intenções da Rússia, não põem obstáculos ao diálogo. Volker tem planos de se reunir com Vladislav Surkov, um membro do alto escalão do Kremlin responsável pela Ucrânia. Mas, diante dos detalhes complexos da manutenção da paz, o impasse deve continuar.The Economist

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