COLÔMBIA FARC

Farc se consolidam como partido político

Ex-movimento de guerrilha anunciou seus candidatos às eleições de 2018 (Foto:)

A chuva de granizo em Bogotá em 1º de novembro foi o segundo acontecimento estranho do dia na capital da Colômbia. O primeiro ocorreu em uma sala de conferências de um hotel, onde o partido político das Farc, Força Alternativa Revolucionária do Comum, que mantém o acrônimo da organização de guerrilha, anunciou seus candidatos para as eleições presidenciais e parlamentares em 2018. À frente do logotipo do partido – uma rosa com uma estrela vermelha no centro – seus líderes esforçaram-se para manter uma aparência de políticos como tantos outros no país. Imelda Daza, a candidata a vice-presidente, prometeu fazer um governo mais inclusivo para eliminar a pobreza, a fome e a dificuldade de acesso à educação.

Para a maioria dos colombianos o ex-movimento de guerrilha marxista-leninista das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia foi responsável pela morte de mais de 200 mil pessoas em 52 anos de conflito armado. O candidato a presidente do novo partido, Rodrigo Londoño, o Timochenko, o antigo líder das Farc, é procurado pelo governo dos Estados Unidos por tráfico de cocaína, sequestro e assassinato. As Farc constam da lista de organizações terroristas do Departamento de Estado dos EUA.

A candidatura de antigos membros das Farc provoca um sentimento de indignação entre a maioria dos colombianos. Embora Timochenko não tenha chance de vencer as eleições, outros líderes das FARC serão eleitos para o Congresso. O partido tem pelo menos dez assentos garantidos nas duas próximas eleições. Permitir que líderes guerrilheiros ocupem cargos públicos significa um incentivo à impunidade e à ilegalidade, disse Iván Duque, senador do partido conservador Centro Democrático.

Os que se opõem à atuação política dos antigos membros das Farc estão organizando um movimento para criar um Tribunal Especial para a Paz (JEP), com autoridade para condená-los a até oito anos de liberdade condicional, o que os tornaria inelegíveis até o cumprimento da sentença.

A participação política foi o preço pago pelo governo colombiano pelo acordo de paz. As Farc cumpriram o acordo. Em agosto, os 7 mil guerrilheiros entregaram suas armas. Segundo estimativas, o fim do conflito poupou a vida de 3 mil pessoas desde meados de 2016.

A implementação do processo de paz e a inserção dos membros das Farc na sociedade causariam, inevitavelmente, problemas, mas um governo fraco é o maior culpado pelas dificuldades. Algumas áreas controladas pelas Farc foram ocupadas por grupos paramilitares, como o ELN e ex-guerrilheiros das Farc, sem que o governo pudesse impedi-los. O plano de ajudar os produtores de coca a cultivar outros produtos agrícolas está progredindo lentamente. E os protestos recentes de populações indígenas e de camponeses têm provocado tumultos.

O futuro da Colômbia seria mais claro se os políticos admitissem a ideia que os líderes das Farc não são mais terroristas e que têm direito a exercer seus direitos de cidadãos. Timochenko e seus companheiros merecem o desprezo dos colombianos. Mas a melhor maneira de mostrar esse sentimento de repulsa é não votar neles.The Economist

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