VENEZUELA ECONOMIA

Por quanto tempo a Venezuela conseguirá evitar a moratória?

Logística do pagamento da dívida está cada vez mais complexa (Foto: kremlin.ru)

A simples menção à Venezuela deveria assustar a maioria dos investidores. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse que o capitalismo “destruiu o planeta” e prometeu construir uma utopia socialista. A produção dos principais setores econômicos do país diminuiu em mais de um terço desde 2014 e há uma grave escassez de alimentos e remédios.

No entanto, os títulos emitidos pelo governo e pela companhia estatal de petróleo PDVSA tiveram retornos nos últimos anos. Desde janeiro de 2015, eles aumentaram em quase 60%, enquanto cada cupom foi pago a taxas de juros altíssimas. “Nunca houve um amigo tão exemplar para os detentores de títulos como a Venezuela”, disse Ray Zucaro da RVX Asset Management, uma empresa de investimentos com sede na Flórida.

A cena dos credores estrangeiros enriquecendo com a dívida externa da Venezuela, enquanto o povo passa fome, em algum momento ficará insustentável do ponto de vista político e financeiro. O governo de Maduro está cada vez mais próximo da inadimplência. Em 27 de outubro, a PDVSA anunciou que havia feito um pagamento de US$842 milhões. Porém, os investidores só começaram a receber o dinheiro em 1º de novembro e os intermediários responsáveis pela transação financeira avisaram aos clientes que haveria uma transferência no dia 2 de novembro, quatro dias após a data do vencimento. Outra parcela da dívida, no valor de US$1,2 bilhão, também venceu em 2 de novembro. Para cumprir esses compromissos, a Venezuela adiou o pagamento de mais de US$700 milhões.

A relação entre o risco e a rentabilidade da inadimplência e do crédito da Venezuela indica uma probabilidade de 75% de suspensão dos pagamentos devidos a credores internacionais nos próximos 12 meses e 99% de chance de moratória nos cinco anos seguintes. No entanto, os mesmos fatores que ajudaram a Venezuela a sobreviver até agora, podem dar mais fôlego ao governo do presidente Maduro.

Essa situação crítica é um reflexo de uma administração incompetente e autocrática, que causou uma crise econômica de extrema gravidade em um país com mais reservas de petróleo do que a Arábia Saudita. A partir de 1999, quando Hugo Chávez assumiu a presidência, o governo desapropriou milhares de empresas, impôs controles nos preços e no câmbio, centralizou a gestão das finanças públicas em benefício de seus aliados e transferiu recursos da PDVSA para programas assistenciais. Quando Chávez morreu em 2013, os preços altos do petróleo encobriam os problemas decorrentes de uma economia em deterioração. Mas com a queda dos preços do petróleo no ano seguinte, o novo presidente Nicolás Maduro, um ex-motorista de ônibus, cuja principal qualificação para o cargo era sua lealdade a Chávez, transformou a grave situação econômica em uma crise humanitária.

Maduro criou um regime ainda mais ditatorial do que Chávez. Em agosto, uma Assembleia Constituinte composta por aliados do governo substituiu a Assembleia Nacional. Os protestos nas ruas das principais cidades do país foram esmagados com brutalidade pela polícia. Segundo a ONU, pelo menos 46 pessoas morreram em 2017 durante as manifestações.

O pagamento aos credores internacionais é resultado em grande parte dos empréstimos concedidos pela China e Rússia. Mas por quanto tempo a Venezuela conseguirá cumprir suas obrigações? As reservas em moeda estrangeira diminuíram de US$43 bilhões em 2008 para US$ 10 bilhões. De acordo com as estimativas, em 2018 as reservas deverão cair para US$2,4 bilhões.

Além disso, a logística do pagamento está cada vez mais complexa. Os Estados Unidos impuseram sanções econômicas à Venezuela em protesto contra o regime ditatorial de Maduro e a violenta repressão aos opositores. As empresas americanas estão proibidas de fazer negócios com membros do governo, entre eles o presidente, o vice-presidente, o procurador-geral e o ministro da Economia.

Mas a recente recuperação dos preços do petróleo, que agora ultrapassam US$50 por barril, pode ajudar a Venezuela a cumprir seus compromissos. Por sua vez, a China e a Rússia continuam a apoiar o governo de Maduro.

De acordo com Monica de Bolle, do Peterson Institute, com sede em Washington, a China e a Rússia “querem prolongar a situação”. O custo de manter o pagamento da dívida da Venezuela é irrisório se comparado ao tamanho dos orçamentos desses dois países. Em troca, ambos mantêm uma posição segura em um país com grandes reservas de petróleo.

Essa equação geopolítica poderia mudar se Maduro fosse deposto. Mas a Assembleia Constituinte pode elaborar uma nova Constituição para mantê-lo no poder. E a oposição, uma frágil coalizão de partidos unidos apenas pela determinação de derrubá-lo, foi derrotada nas eleições para governadores em outubro, apesar da suspeita de interferência do governo.The Economist

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