RETROSPECTIVA 2017 BRASIL

Temer se livra da Justiça duas vezes, e Brasil ainda busca saída para a crise


O presidente da República, Michel Temer, se salvou duas vezes neste ano de perder o cargo por graves denúncias de corrupção, que afetaram a morna recuperação da economia de um país que em 2018 vai encarar um incerto processo eleitoral.

A crise política, iniciada há quase quatro anos com um escândalo de corrupção na Petrobras, teve em 2017 novas fases e voltou a afetar a economia, que mesmo assim saiu a duras penas da recessão que sofreu em 2015 e 2016.

A tranquilidade que o Brasil tentava recuperar no começo deste ano depois do turbulento 2016 marcado pela cassação de Dilma Rousseff acabou em meados de maio com uma explosiva delação à justiça dos donos do grupo JBS, Joesley e Wesley Batista.

Os irmãos confessaram que durante mais de uma década pagaram propinas a diversos políticos em troca de "favores" que ajudaram a transformar a JBS em um dos gigantes do setor alimentício mundial.

Entre esses políticos, segundo as delações, estaria o próprio Temer, a quem Joesley Batista visitou em uma noite no Palácio do Alvorada e, sem que o presidente soubesse, gravou uma conversa que, para muitos, confirmava sua participação direta no escândalo.

A Procuradoria Geral da República (PGR), então sob comando de Rodrigo Janot, deu um passo inédito na história brasileira e apresentou uma denúncia formal por corrupção contra um chefe de governo em pleno exercício do poder.

Por se tratar de um crime penal, o caso foi enviado à Câmara dos Deputados, que segundo a Constituição deve aprovar a abertura de um julgamento dessa natureza contra um presidente.

Essa disposição constitucional levou o assunto a um terreno claramente político, no qual Temer se valeu da sua poderosa base parlamentar para arquivar a denúncia da PGR.

Mesmo assim, Janot não deu o braço a torcer e formulou novas acusações contra Temer, por obstrução à justiça e formação de quadrilha, que também foram bloqueadas pela Câmara.

Em ambos os casos, as denúncias se apoiaram nas delações dos irmãos Batista, apesar de a própria PGR as ter anulado ao comprovar que eles tinham mentido ou omitido informações sobre vários episódios de corrupção nos quais tiveram participação.

Embora tivessem sido arquivadas, as acusações contra Temer paralisaram o Congresso durante quase quatro meses e impediram a aprovação das polêmicas reformas estruturais - trabalhista e previdenciária - que o governo promovia para tentar alavancar a incipiente recuperação econômica do país.

Essas reformas, que ainda são discutidas no Congresso, levaram sindicatos a convocar as primeiras três greves gerais registradas no Brasil em quase duas décadas.

Entre as denúncias de corrupção e as impopulares reformas, a baixa aceitação que Temer tinha entre os brasileiros desabou para o menor patamar de um presidente na história do país, e todas as pesquisas dizem hoje que sua popularidade é de cerca de 3,5%.

Mesmo assim, graças à forte base parlamentar, Temer abriu caminho para continuar no poder até 1º de janeiro de 2019, quando deixará o cargo para quem vencer as eleições previstas para outubro.

O processo eleitoral se apresenta como o mais incerto em décadas, em parte porque muitos dos possíveis candidatos estão no olho do furacão dos escândalos de corrupção. Entre eles está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não esconde o desejo de voltar ao poder, mas que neste ano foi condenado por corrupção a nove anos e meio de prisão em primeira instância, em um dos seis processos em que responde como réu.

Lula lidera as pesquisas de intenção de voto, mas sua candidatura depende de que a pena não seja confirmada em segunda instância, pois isso o impediria de concorrer a qualquer cargo público.

Em segundo lugar aparece o militar da reserva e deputado Jair Bolsonaro, que promete rigor contra a corrupção, mas não está livre de problemas judiciais e já foi condenado por vários crimes civis, como racismo, machismo e homofobia.Eduardo Davis/EFE

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