CENSURA CHINA

China adota regras mais rígidas de acesso à internet

Em julho, a Apple cancelou a venda dos serviços da VPN em sua loja virtual na China (Foto: Flickr)

Antes de ser preso, poucas pessoas tinham ouvido falar em Wu Xiangyang. Mas quando a notícia de sua sentença de prisão foi publicada em um jornal estatal no final de dezembro, os usuários de internet em toda a China passaram a conhecê-lo. Um pequeno comerciante da província de Guangxi, o crime de Wu consistiu em vender um software que viola os controles draconianos da internet na China. Sua sentença de cinco anos e meio é a mais severa já aplicada a esse tipo de “negócio ilegal”.

Os chineses conseguem comprar com facilidade os serviços da rede privada virtual (VPN), que permite o acesso a conteúdos censurados. Por meio da VPN um usuário pode acessar milhares de sites bloqueados pelo governo, assim como quase todos os serviços do Google, muitos sites de notícias e a maioria das redes sociais estrangeiras. Muitas pessoas usam a VPN várias vezes por dia para evitar a censura da “grande firewall”, ou GFW em chinês. Os estrangeiros dependem da VPN para acessar sites que precisam no dia a dia, como Gmail, Dropbox, Facebook e Instagram.

Muitos analistas acreditam que a falha no sistema de segurança da grande firewall não é um erro de programação, e sim uma maneira de permitir a navegação online por empresários, acadêmicos e moradores estrangeiros. Mas essa interpretação tem sido cada vez mais contestada. No ano passado, o governo tentou dificultar a compra e o uso da VPN, a forma mais comum de acesso a conteúdos bloqueados. A prisão de Wu foi um aviso claro para outros que pretendiam vender o software aos consumidores locais. A previsão é que o governo adote medidas ainda mais restritivas em 2018.

A restrição à venda e ao uso da VPN, que começou no ano passado e deve estar concluída até o final de março, tem como objetivo fazer uma “limpeza” na internet. Diferentes provedores encerraram suas atividades sob pressão do governo. O serviço dos provedores atuais limita-se aos usuários empresariais.

Em julho, a Apple cancelou a venda dos serviços da VPN em sua loja virtual na China. A Google Play de aplicativos para Android seguiu o exemplo da Apple, embora mais devagar. A maioria dos lugares públicos onde os usuários têm acesso a sites censurados pelo governo, como os hotéis que hospedam estrangeiros, está restringindo o uso da internet.

Os assinantes dos serviços da VPN estrangeiros ainda podem usar suas contas na China. Mas eles assustaram-se em julho, quando a Bloomberg, citando fontes anônimas, disse que as empresas de telecomunicações haviam recebido instruções para bloquear o acesso às VPNs “pessoais” não autorizadas, possivelmente também as estrangeiras, até 1º de fevereiro de 2018. O Ministério de Informática fez uma declaração confusa desmentindo a nota da Bloomberg.

A ameaça de um controle mais rígido do uso da internet não preocupa apenas os usuários comuns. Muitas empresas usam seus sistemas de VPN internos ou tecnologias semelhantes para conectar redes corporativas. É possível que venham a ser obrigadas a usar os serviços autorizados pelo governo, como VPNs oficialmente aprovadas e linhas alugadas, menos confiáveis ​​e mais fáceis de espionar do que seus sistemas.

Com o crescente aumento de poder do presidente Xi Jinping, as previsões ficam mais sombrias. Jinping demonstra pouco interesse em solucionar os problemas apontados pelas empresas estrangeiras de conexão com o exterior. O governo também quer impedir que a internet se torne um meio de os dissidentes expressarem seu descontentamento. Em 2017, as agências reguladoras fecharam muitos blogs e sites que transmitiam eventos ao vivo, como shows, porque poderiam ser usados ​​como plataformas de críticas ao partido. Nada indica que essa política irá mudar.The Economist

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