ONDA DE PROTESTOS

Irã não pode continuar controlando cidadãos, diz Rouhani

‘Não se pode forçar o estilo de vida das futuras gerações’, disse Rouhani (Foto: kremlin.ru)

O presidente iraniano, Hassan Rouhani, atacou seus opositores linha-dura em um discurso na última segunda-feira, 8, sobre a onda de protestos que tomou o país desde o final de dezembro.

Em seu mais extenso pronunciamento desde o início das manifestações, Rouhani disse que os protestos que tomaram o país não são apenas motivados por problemas econômicos, mas também pela corrupção generalizada e pela política restritiva do governo clerical sobre a liberdade e as condutas pessoais dos cidadãos.

“Não se pode forçar o estilo de vida das futuras gerações. O problema é que queremos que duas gerações posteriores à nossa vivam da maneira como queremos que vivam. Alguns imaginam que as pessoas somente querem dinheiro e uma boa economia, mas quem aceitaria uma farta quantia de dinheiro por mês, quando, por exemplo, a internet pode ser totalmente bloqueada? A liberdade e a vida das pessoas podem ser compradas com dinheiro? Por que alguns apontam os motivos errados? Isso é um insulto à população”, disse Rouhani.

Rouhani, um representante da ala moderada, vem buscando o afrouxamento no controle do governo à sociedade, mas enfrenta resistência de poderes centrais ocupados por representantes linha-dura alçados ao cargo sem necessidade de eleições, como o judiciário. Tais poderes pretendem manter a estrutura das leis islâmicas que ditam como as pessoas devem viver, apesar das profundas mudanças ocorridas na sociedade iraniana nas últimas décadas.

Tanto o judiciário iraniano quanto o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, culparam “inimigos externos” pelos protestos que varreram cerca de 80 cidades do país. Eles afirmaram tratar-se de um movimento orquestrado pelos EUA, Israel e Arábia Saudita para enfraquecer o governo islâmico do Irã, chamaram os manifestantes de “desordeiros” e declararam querer todas as mídias sociais banidas do país. No último domingo, 7, em uma das medidas que dá um vislumbre de suas atitudes, a ala linha-dura do Irã baniu o ensino da língua inglesa de todas as escolas primárias do país para combater a influência ocidental.

Para muitos aliados de Rouhani as primeiras manifestações na cidade de Mashaad, que foram o estopim da onda de protestos, foram orquestradas por opositores linha-dura para desacreditar o governo do presidente.

Rouhani foi eleito e reeleito com a promessa de revigorar a economia, mas apresentou poucos resultados. Para piorar, o recente orçamento aprovado por seu governo, com cortes de subsídios de combustível e de verbas para as camadas mais pobres, e aumento significativo nos gastos com instituições clericais enfureceu muitos iranianos. Além disso, os protestos também miram uma gama de outros problemas, que inclui a corrupção endêmica e o dispendioso apoio do Irã ao governo da Síria e a grupos xiitas do Oriente Médio, em especial o movimento libanês Hezbollah.

Na tentativa de dissipar as críticas contra a economia, Rouhani ressaltou a extensão e a validez das demandas da população. “As pessoas têm demandas, algumas econômicas, sociais ou ligadas à segurança, e todas essas demandas devem ser atendidas”, disse o presidente.

Se citar diretamente os cartazes em manifestações que pediam a renúncia de Khamenei, Rouhani disse que ninguém é passível de críticas. “Não temos governantes infalíveis e toda autoridade pode ser criticada”, disse Rouhani.

O presidente também disse que o aplicativo Telegram – rede social de troca de mensagens usada por 40 milhões de iranianos que foi bloqueada por conta das manifestações – voltará a funcionar. O aplicativo de compartilhamento de fotos Instagram, que também foi bloqueado, voltou a operar, mas ainda parcialmente e sem acesso para dispositivos móveis.

“Tudo que é bom tem vantagens e desvantagens. Mas ninguém pode dizer, por exemplo, que as montadoras de carros e motos devem ser fechadas por causa dos perigos que tais veículos podem causar”, disse Rouhani.The New York Times



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