VISITA PAPAL

Chile será um desafio para o Papa Francisco

Papa Francisco chega ao Chile em 15 de janeiro para uma visita de três dias (Foto: Wikimedia)

Quando a visita do Papa Francisco ao Chile foi anunciada em junho do ano passado, os católicos devotos do país pensaram que a presença do papa ajudaria a recuperar a fé dos que haviam se afastado da igreja. Mas enquanto os chilenos esperam sua neste 15 de janeiro para uma visita de três dias, os preparativos destacaram o crescente desinteresse de muitos chilenos em relação à Igreja Católica.

A maioria dos chilenos criticou o governo por ter gastado 7 bilhões de pesos (US$11 milhões) em questões como segurança e logística. “O dinheiro deveria ter sido investido na melhoria das condições de vida da população pobre, sobretudo na área de saúde”, disse Sonia Meza, uma evangélica que trabalha como empregada doméstica em La Florida, um subúrbio de Santiago.

A falta de entusiasmo contrasta com a recepção entusiástica a João Paulo II, em 1987, durante a ditadura de 17 anos de Augusto Pinochet. Na época, mais de três quartos dos chilenos eram católicos. A Igreja Católica era respeitada por sua defesa dos direitos humanos e a visita do papa foi uma oportunidade para mostrar oposição a Pinochet.

Ao longo dos últimos 30 anos, a confiança na Igreja Católica diminuiu radicalmente, de acordo com a sondagem realizada pelo instituto de pesquisa Latinobarómetro. Menos da metade da população chilena se considera católica. Uma pesquisa anual do Centro de Políticas Públicas da Universidade Católica, que usa uma metodologia um pouco diferente, indicou uma proporção de 60% de católicos no país.

A Igreja Católica tem perdido fiéis em toda a América Latina. As igrejas evangélicas estão atraindo um grande número de pessoas. A mesma tendência é visível entre os chilenos mais pobres e menos instruídos. Porém, o comportamento dos jovens mais ricos e mais bem instruídos diferencia o Chile dos demais países da região. No Chile, esses jovens se afastaram totalmente da religião. “Existe um processo avançado e rápido de laicização no Chile”, disse Ignacio Irarrázaval do Centro de Políticas Públicas.

Em parte, isso é resultado de o Chile ser o país mais rico da região e com a economia mais aberta. Essas características facilitaram a disseminação de tendências sociais mais progressistas do exterior. As revelações sobre o abuso sexual de crianças por padres também aumentaram a rejeição à Igreja Católica. A pesquisa do Latinobarómetro mostrou que a conduta criminosa de Fernando Karadima, o padre de El Bosque, uma paróquia de Santiago, provocou um êxodo da igreja. Padre Karadima tinha ligações bem próximas com a elite chilena, o que levantou suspeitas que pessoas poderosaslhe permitiram agir impunemente por muitos anos. A nomeação pelo Papa Francisco de Juan Barros, um amigo de Karadima, como bispo da diocese de Osorno foi vista por muitos chilenos como um erro desastroso.

A Igreja Católica também está cada vez mais afastada dos chilenos em questões de moralidade sexual. O clero fez campanha contra o divórcio legalizado em 2004 e se opôs no ano passado à descriminalização do aborto em caso de risco de vida para a mãe, inviabilidade do feto e estupro.

Alguns católicos esperam que os jovens sintam-se atraídos pela preocupação do Papa Francisco com o meio ambiente, por seu estilo de vida modesto e pelo carisma. A agenda de sua estadia prioriza temas de justiça social, como a visita a uma prisão de mulheres, uma reunião com um grupo de mapuches, a tribo indígena mais numerosa do país, e um encontro com imigrantes.

Não há dúvida que milhares de chilenos se reunirão para vê-lo. O governo organizou três enormes missas em Santiago, em Temuco no sul e em Iquique no norte do país. Hotéis em Temuco esperam a chegada dos argentinos que irão acompanhar a visita do primeiro papa argentino. Os chilenos também poderão assistir sua visita na televisão. Mas tudo indica que a tendência à laicização no país é irreversível.

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