GUERRA COMERCIAL

O mundo diante do risco de uma nova recessão

O olho por olho nos deixará todos cegos e o mundo em profunda recessão', alerta o diretor-geral da OMC (Foto: ckgsb.edu)

O avanço de políticas protecionistas em vários países, estimuladas pelo temor de uma guerra comercial, pode mergulhar o mundo em uma nova e profunda recessão.

O alerta foi dado na última segunda-feira, 5, pelo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, Roberto Azevêdo, em uma reunião especial do órgão para tratar das tensões comerciais geradas pela recente decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de aumentar as tarifas para a importação de aço e alumínio.

“À luz dos recentes anúncios sobre medidas de política comercial, é claro que agora vemos um risco muito maior e real de desencadear uma escalada de barreiras comerciais em todo o mundo. […] Não podemos ignorar este risco e peço a todas as partes que considerem e reflitam profundamente sobre esta situação. Uma vez que tomarmos esse caminho, será muito difícil mudar de direção. O olho por olho nos deixará todos cegos e o mundo em profunda recessão. […] Temos que fazer um esforço para evitar a queda das primeiras peças do dominó. Ainda temos tempo”, alertou o diretor-geral.

No dia 1º deste mês, Trump anunciou que seu governo vai impor uma tarifa para importação de aço e alumínio de 25% e 10%, respectivamente. O presidente americano justificou a medida afirmando que visa proteger os produtores americanos e estimular a criação de empregos no país.

O anúncio de Trump teve forte repercussão internacional e gerou reação de países como China, Brasil, México, Canadá e Índia, além da União Europeia, que alertaram que a medida pode ter um efeito dominó e exortaram o presidente americano a repensar a decisão.

Trump, no entanto, permanece irredutível. Em sua página no Twitter, ele disse que “guerras comerciais são boas e fáceis de vencer”. “Quando um país [EUA] está perdendo vários bilhões de dólares no comércio com virtualmente cada país com o qual faz negócios, guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar. Por exemplo, quando estamos US$ 100 bilhões abaixo com um determinado país e eles ficam fofos, não negociem mais – nós ganhamos muito. É fácil!”, escreveu Trump.

Diante da resposta de Trump, a China declarou que vai tomar as “medidas necessárias” para garantir seus interesses. “A China não quer uma guerra comercial com os Estados Unidos, mas se os EUA aprovarem ações que danificam os interesses chineses, a China não ficará de braços cruzados e tomará as medidas necessárias. As políticas baseadas em juízos ou presunções equivocadas danificarão as relações e trarão consequências que lugar algum gostaria de ver”, disse Zhang Yesui, porta-voz do plenário da Assembleia Nacional Popular (ANP).

A guerra comercial e o risco de colapso da OMC

O anúncio dos EUA e a resposta da China elevaram o temor de que o mundo está prestes a enfrentar uma guerra comercial. Um artigo da revista Foreign Affairs cita o impasse gerado pela decisão de Trump e vai além, afirmando que a própria OMC corre risco de colapso. Caso a previsão se concretize, os mais afetados seriam países pobres e emergentes.

O texto lembra que, em 2010, uma das metas traçadas no ano 2000, pela iniciativa “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”, foi alcançada. A extrema pobreza mundial caiu pela metade. O fator que mais contribuiu para isso foi o crescimento econômico de países emergentes, em especial a China e a Índia.

“Embora tal crescimento tenha sido alimentado por vários fatores, um fator crucial foi o comércio internacional. Várias pesquisas indicam que países e regiões que aproveitaram as oportunidades geradas por baixas tarifas e mercados abertos se saíram particularmente bem, apoiados por um sistema confiável de regras comerciais – todas negociadas, monitoradas e implementadas sob os auspícios da OMC”, diz o texto.

Porém, o artigo alerta que, apesar do avanço, entre 600 milhões e 700 milhões de pessoas ainda vivem com menos de US$ 1,90 por dia, a maioria delas concentradas em países pobres e emergentes.

“Por exemplo, 4,5% dos brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza extrema, 6% na Índia e 34% e 42% no Afeganistão e na Nigéria (respectivamente). […] Se a OMC entrar em colapso, os países ricos facilmente seriam capazes de impor tarifas aos países pobres, ao mesmo tempo introduziriam muitas outras medidas protecionistas para desencorajar as importações. Países emergentes, que experimentaram o crescimento através das exportações e adaptaram suas cadeias de produção ao mercado de exportação, seriam duramente afetados. Um declínio em suas exportações atingiria diretamente seus produtores e trabalhadores nas indústrias afetadas, resultando em perdas para populações pobres que não podem suportar tais prejuízos”, explica o artigo.

A revista lembra ainda que um eventual colapso na OMC iria além do fechamento de postos de trabalho e aumento nos preços dos produtos básicos. Ele comprometeria a capacidade de países pobres e emergentes de fechar acordos.

“O primeiro benefício fundamental que os países pobres obtêm com a OMC é o fato de que eles ganham condições de igualdade para negociar com países mais robustos. Fora da OMC, em acordos bilaterais e regionais, é muito mais fácil coagir os países a aceitarem termos severos em um acordo comercial. Formalmente, todos os membros da OMC têm um voto cada. Esta é uma ferramenta poderosa de equalização. […] Informalmente, ter voz dentro da instituição, e uma série de parceiros para trabalhar, permite que países pobres formem coalizões com estados com ideais semelhantes. Algumas coalizões poderosas emergiram ao longo dos anos, que permitiram que países pobres e de renda média se unissem. […] Sem a OMC, os países emergentes não teriam as regras institucionais para protegê-los nem o apoio de coalizões para fortalecer seu poder de barganha”, alerta o artigo.Foreign Affairs

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