LIVRO STEVEN PINKER

O otimismo de Steven Pinker

Alguns leitores terão uma visão crítica desse otimismo efervescente (Foto: Divulgação)

Para qualquer pessoa que lê jornais os dramas do mundo atual são infindáveis. A guerra civil na Síria prolonga-se há sete anos. Outro lunático armado com um fuzil fez um novo massacre em uma escola nos EUA. O tom do debate político poucas vezes foi tão agressivo e hostil como hoje.

As primeiras páginas dos jornais relatam histórias tristes pelo mesmo motivo que nas peças de Shakespeare os assassinatos faziam parte das tramas. A tragédia é um drama que causa impacto. As catástrofes em geral ocorrem de forma repentina e com um apelo visual. Uma fábrica fecha e centenas de operários desempregados se reúnem em frente ao seu portão; um prédio de apartamentos se incendeia. Os acontecimentos felizes desenrolam-se aos poucos e de maneira mais disseminada, por isso, é difícil percebê-los em sua essência.

As notícias ruins impedem que as pessoas avaliem o progresso da humanidade, queixa-se Steven Pinker. É preciso usar números para ter uma visão real do mundo, disse. E com o uso de números Pinker descreve em seu novo livro, Enlightenment Now: The Case for Reason, Science, Humanism and Progress, a evolução dos seres humanos.

Segundo o autor, o mundo é cerca de 100 vezes mais rico do que há 200 anos e, ao contrário da crença popular, a riqueza é distribuída de maneira mais uniforme. O total de mortes nas guerras por ano representa menos de um quarto das mortes na década de 1980 e 0,5% do número de pessoas que morreram na Segunda Guerra Mundial. Ao longo do século XX, 96% dos americanos correram menos risco de morrerem em um acidente de automóvel, 92% têm menos chances de morrer em um incêndio e 95% têm menos probabilidade que aconteça algo fatal no local de trabalho.

Em seu livro anterior mais conhecido, The Better Angels of Our Nature, Pinker mostrou a diminuição da violência no mundo. Em Enlightenment Now ele descreve o progresso contínuo em muitas áreas inspirado nos princípios do Iluminismo do século XVIII, resumidos por Immanuel Kant na frase, “Tente entender!” O comércio e a tecnologia difundem ideias diferentes e inovadoras, que permitem que os países ricos acumulem mais riqueza e os mais pobres evoluam.

O progresso tem sido extraordinariamente rápido. A grande maioria dos americanos de classe média baixa tem acesso a luxos ignorados pelas famílias riquíssimas dos Vanderbilt e Astor há 150 anos, como eletricidade, ar-condicionado e televisão. Os vendedores ambulantes do Sudão do Sul têm celulares modernos. Os novos medicamentos e as condições sanitárias permitem que as pessoas tenham vidas mais longas e saudáveis. A tecnologia também proporciona mais lazer preenchido por inúmeras fontes de entretenimento, como a Amazon e a Apple.

As pessoas estão desenvolvendo mais a inteligência. Em todos os lugares do mundo, as pontuações de QI aumentaram em 30 pontos nos últimos 100 anos. Como explicar esse fenômeno, uma vez que a inteligência é em grande parte genética? A resposta seria uma nutrição melhor (“os cérebros são órgãos gulosos”) e mais estímulo. As crianças frequentam mais as escolas do que em 1900, enquanto no ambiente familiar e social, o pensamento analítico é incentivado por uma cultura que se apoia em símbolos visuais, ferramentas analíticas e conceitos acadêmicos.

A crença na igualdade para minorias étnicas e homossexuais aumentou sensivelmente, como mostram as pesquisas e informações veiculadas na internet. Até em lugares mais conservadores novos valores liberais estão se impondo, como entre os jovens muçulmanos no Oriente Médio.

Alguns leitores terão uma visão crítica desse otimismo efervescente. Afinal, somos mais ricos, mas a competição faz com que as pessoas queiram ter ainda mais bens em uma angústia existencial crescente. Temos acesso a computadores de tecnologia de ponta, porém eles estão causando uma epidemia de solidão entre os jovens. O aquecimento global e os mísseis nucleares da Coreia do Norte ameaçam a existência da humanidade.

Pinker tem respostas para todos esses questionamentos. Em 45 dos 52 países citados no World Values ​​Survey, o nível de felicidade aumentou entre 1981 e 2007. A solidão, pelo menos entre os estudantes americanos, está diminuindo. O aquecimento global é uma grande ameaça, mas não intransponível. O número de armas nucleares caiu 85% desde o auge dos arsenais nucleares no mundo.

O aumento do populismo desafia a tese de Pinker. Os seguidores de Donald Trump e os vários partidos políticos de extrema-direita xenófobos na Europa acham que o passado foi uma era dourada e que as instituições democráticas conspiram para enriquecer a elite.

Mas o otimismo de Pinker é inabalável. O populismo, em sua opinião, é um fenômeno passageiro. A razão está superando as crenças religiosas. O instinto humano para solucionar problemas é poderoso. Assim, com exceção de um ataque de asteroides ou uma guerra nuclear, o mundo continuará a progredir.The Economist



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