CIÊNCIA MEMÓRIA

Estudo aponta sucesso em ‘transplante de memória’ em caracóis

Para o estudo, os pesquisadores dividiram os caracóis marinhos em grupos diferentes (Foto: Wikimedia)

Um grupo de cientistas dos Estados Unidos conseguiu fazer uma espécie de “transplante de memória” em caracóis marinhos. A descoberta, liderada pelo biólogo David Glanzman, foi publicada na revista eNeuro.

Na realidade, o que foi transplantado entre os caracóis foi o ácido ribonucleico (RNA), que é ligado a funções essenciais em organismos vivos. Com o estudo, os pesquisadores queriam entender melhor o processo de armazenamento de memória, almejando descobrir maneiras de restaurar memórias perdidas ou aliviar traumas dolorosos.

“Do que estamos falando são tipos muito específicos de memórias, não o tipo que diz o que aconteceu comigo no meu quinto aniversário, ou quem é o presidente dos Estados Unidos”, explicou Glanzman, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), ao Guardian.

Para o estudo, os pesquisadores dividiram os caracóis marinhos em grupos. O primeiro grupo recebeu cinco choques elétricos leves, um a cada 20 minutos. Depois de 24 horas, os cientistas repetiram o processo. Os caracóis que já haviam recebido choques elétricos contraíram o corpo durante 50 segundos, adotando uma postura defensiva. Já os caracóis que não haviam sido treinados, contraíram por apenas um segundo.

Depois disso, os pesquisadores recolheram o RNA dos dois grupos de caracóis e transplantaram em outros dois grupos não condicionados anteriormente. O grupo que recebeu o RNA dos caracóis que já haviam recebido choques elétricos, contraíram-se defensivamente por cerca de 40 segundos. Já o outro grupo, que recebeu o RNA dos caracóis que não haviam sido treinados, não tiveram mudanças na sua postura defensiva.

Os cientistas normalmente acreditam que as memórias de longo prazo estão relacionadas com as sinapses do cérebro. Porém, segundo Glanzman, “se as memórias ficassem nas sinapses, nosso experimento não funcionaria de jeito nenhum”, conforme noticiou a BBC.

Os caracóis marinhos, que não foram machucados durante o estudo, foram escolhidos por, segundo os pesquisadores, terem processos celulares e moleculares semelhantes aos dos seres humanos. Apesar disso, os caracóis só contam com 20 mil neurônios, enquanto os humanos tem 100 bilhões.

Apesar do otimismo com o trabalho realizado, outros cientistas ainda não se mostraram totalmente convencidos com a possibilidade de transferência de memória. Seralynne Vann, que estuda a memória na Universidade de Cardiff, afirmou que ainda são necessários muitos outros estudos para entender melhor as mudanças ocorridas e o processo dos acontecimentos.

“Enquanto a Aplysia [californica, nome científico do caracol marinho] é um modelo fantástico para o estudo da neurociência básica, devemos ter muito cuidado ao fazer comparações com processos de memória humana, que são muito mais complexos”, afirmou Vann ao Guardian.

Tomás Ryan, que estuda memória na Universidade de Dublin, não acredita que os cientistas conseguiram transplantar uma memória. Para o cientista, as mudanças comportamentais podem estar envolvidas com alguma mudança no animal. Mesmo assim, Ryan destacou a importância de estudos como o de Glanzman.

“Num campo como este que é tão cheio de dogmas, onde esperamos que as pessoas se aposentem para que possamos seguir em frente, precisamos do maior número possível de ideias novas. Este trabalho nos leva a um caminho interessante, mas eu tenho muito ceticismo em relação a isso”, destacou ao Guardian.BBC

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