ONDA DE DETENÇÕES

Arábia Saudita reprime ativistas dos direitos das mulheres

A Arábia Saudita é considerada um dos piores países do mundo para ser mulher (Foto: kremlin.ru)

Reformas para inglês ver. Assim pode-se definir os supostos esforços do príncipe saudita Mohammed bin Salman em prol de melhores condições para as mulheres na Arábia Saudita.

Salman, que se apresenta como um reformista, anunciou em setembro de 2017, “a concessão da licença para dirigir às mulheres na Arábia Saudita”, o único país do mundo a proibir a prática. A medida está prevista para entrar em vigor em junho deste ano. O anúncio se somou a outras medidas apresentadas como progressistas, como, por exemplo, a permissão para que cinemas operem no país, após 35 anos de proibição.

Porém, a poucas semanas da nova legislação entrar em vigor, a Arábia Saudita iniciou uma onda de repressão a ativistas dos direitos das mulheres no país, que, entre suas bandeiras, defendiam exatamente o direito de dirigir. Segundo informações do jornal Washington Post, pelo menos sete pessoas foram presas, sendo cinco mulheres e dois homens.

Uma delas é Loujain al-Hathloul, uma das ativistas mais conhecidas do país. Ela foi presa em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, onde cursa mestrado, quando dirigia perto de uma universidade. Após ser detida, ela foi enviada de volta ao seu país de origem.

A medida reflete a forte cooperação entre os governos saudita e emiradense, que promovem na região uma agenda que prioriza estabilidade e desenvolvimento econômico, enquanto reprime o ativismo político.

Além de Hathloul, foram presas Eman al-Nafjan, Aziza al-Nafjan e o advogado Ibrahim al-Mudimigh, que, em uma ocasião, já atuou em defesa de Hathloul em um julgamento. Fontes próximas às ativistas, que não quiseram se identificar por temor de represálias, revelaram à rede NBC News e ao Washington Post, que no ano passado ativistas como Nafjan e Nafjan foram contatadas por agentes da corte saudita logo após Salman anunciar a nova lei autorizando mulheres a dirigir. Elas foram alertadas a não dar entrevista ou comentar o assunto nas redes sociais. Após o contato, algumas optaram por deixar o país, outras acataram a orientação.

A recente onda de detenções foi divulgada na mídia com o viés de uma campanha de difamação. Apresentados pelos jornais governistas como “traidores”, os ativistas presos foram acusados de “contatos suspeitos com atores externos” e de “minar a segurança e a estabilidade” do país.

Em entrevista à rede CNN, a escritora e ativista saudita Manal al-Sharif, que vive em Sidney, Austrália, lamentou as prisões. “Voltamos à estaca zero. Vivíamos num Estado policial, onde dizer certas coisas podia levá-lo à cadeia. Estamos vendo o mesmo padrão se repetindo agora”, disse Sharif.

Em contraponto, publicamente, o príncipe Salman declara ser a favor da igualdade entre homens e mulheres. Em uma entrevista dada recentemente ao programa “60 minutes”, da rede CBS News, Salman declarou: “Somos todos seres humanos, e não há diferença”.

Segundo informações do jornal Globo, para organizações como a Human Rigths Watch e a Anistia Internacional, que condenaram as detenções, a repressão atual segue um padrão adotado pelo príncipe herdeiro nos últimos meses de calar opositores. No ano passado, sob o pretexto de combater a corrupção, Salman ordenou a prisão de mais de 200 pessoas, entre elas dissidentes, adversários políticos ativistas de direitos humanos, clérigos, empresários e príncipes.

A Arábia Saudita tem como religião oficial o wahabismo, a vertente mais radical e conservadora do islamismo. O país é considerado um dos piores do mundo para ser mulher. As mulheres sauditas são obrigadas a ter um guardião homem (que pode ser o pai, o marido ou até o próprio filho). Nesse sistema, ela precisa da autorização do seu guardião para basicamente tudo: estudar, viajar, casar ou ter acesso a serviços públicos. Desta forma, elas são tratadas como “menores de idade permanentes”. Caso a mulher tenha alguma renda própria, esta é controlada, investida e dada de volta a ela em pequenas frações por seu guardião. Além disso, elas são condenadas por crimes relacionados à moral e usadas como moeda de barganha.

Além da repressão às mulheres, a Arábia Saudita também é criticada internacionalmente pelo alto número de execuções, 48 delas apenas nos quatro primeiros meses deste ano, sendo metade delas por crimes não violentos.

Para tentar atenuar a imagem, o governo saudita divulgou no ano passado planos para abrir centros de relações públicas na Europa e na Ásia para para conter a cobertura negativa da mídia sobre o país e “promover a mudança de imagem da Arábia Saudita para o resto do mundo e melhorar a percepção internacional do reinado”.

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